quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Há muita vida no deserto!

Pelo menos no Deserto do Atacama. Desde a meia-noite de ontem estou acompanhando a operação de resgate dos 33 mineiros soterrados há 69 dias em uma mina. Confesso que esperava ver homens debilitados, sujos e fracos saindo da sonda improvisada, se é que se pode dizer isso de um artefato que conseguiu resgatar 33 vidas, para a o resgate. Exatamente agora, 22:59h, foi resgatado o último mineiro. E o que vi ao longo de toda noite e o dia de hoje foram homens felizes, gratos, fortes e muitas vezes até mesmo eufóricos. Depois de mais de dois meses vivendo em um ambiente úmido, quente e escuro, surgem seres humanos capazes de se barbear para encontrar suas famílias e em condições de empunharem as bandeiras dos times de seus corações perante toda a imprensa mundial. De onde vem tanta força? O que não os deixou enlouquecer? É certo que houve um apoio psicológico, envio de comida... mas também é fato que antes de serem localizados, ficaram os 33 por 17 dias vivendo, ou melhor, sobrevivendo, com uma escassez e privação absurdas. Questões de gênero à parte, fico me perguntando se fossem 33 mulheres ali se teriam sobrevivido. Depois do sucesso do resgate, vale essa pimentinha! O segundo mineiro a ser resgatado, Mário Sepúlveda, trouxe pedras do fundo da mina como presentes e puxou um grito de guerra que se tornou constante a cada chegada de um novo resgatado. Que me perdoem os nativos aymaras, mas depois de hoje, o deserto passa a ser desses mineiros. Daqui a muitos anos, outros povos hão de ver as escritas e desenhos por eles deixados nas rochas do Atacama. "As Veias Abertas..." de Galeano ganharam um novo capítulo, que tanto pode ser contado sob o prisma das más condições de trabalho dos mineiros quanto pela resiliência, capacidade de organização, fé e tenacidade de 33 seres humanos. Por hoje, eu prefiro a segunda opção.

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