segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

PARADOXO



Ontem, passeando pelos canais disponíveis em minha assinatura de TV a cabo, experimentei, com lágrimas, culpa, perplexidade e um gosto de fel, as variações sobre um mesmo tema: as vítimas da tragédia no Haiti. Diferentes olhares, abordagens mais ou menos sensacionalistas davam conta de estimar o número de vítimas fatais: aproximadamente 200 mil. Quando toda aquela tristeza já havia tomado conta de mim por inteiro, de tal forma que eu não podia mais suportar, resolvi dar uma fugidinha para outro canal em busca de algo que me fizesse esquecer o que algumas pessoas jamais poderão. E consegui. Congelei minha atenção em uma matéria sobre os 25 anos do Rock in Rio I. Ah! Não fosse a constatação de que estou mesmo ficando velha, foi uma delícia lembrar daquele mar de gente assistindo a astros consagrados como WhiteSnake, Rod Stewart, Queen, Alceu Valença, Lulu Santos, Barão Vermelho e Erasmo Carlos. Houve quem aproveitasse a oportunidade para ter seu momento de fênix, como James Taylor, que andava meio esquecido e saiu das cinzas naquele palco. E foi ali que apareceram os Paralamas do Sucesso! E que sucesso! Kid Abelha ainda tinha os Abóboras Selvagens e a Blitz incendiava a multidão com seu rock debochado. Ia tudo na linha daquela deliciosa nostalgia até que Nelson Motta, o colunista responsável pela matéria, começou a passar algumas informações técnicas sobre o evento e dentre elas veio o dado de média de público: 200 mil. Não tive como não retornar, em pensamento, alguns canais antes e retomar a tristeza reacendida pelo paradoxo de 200 mil pessoas pulando e dançando e 200 mil pessoas soterradas e enterradas, sem nenhum protocolo, em uma vala comum. Daqueles que estavam ali, havia pelo menos 17 brasileiros. É possível que algum deles estivesse no Rock in Rio I. Pode ser que outros, que não brasileiros, também pudessem estar, já que o mundo é pequeno. Não pude deixar de pensar em gratidão e em aproveitar cada segundo do tempo “presente”. Hoje você está no Rock in Rio e amanhã...